Introdução
O Brasil, apesar de seus avanços econômicos, ainda enfrenta desigualdades sociais estruturais que se refletem no mundo do trabalho. Um estudo recente do Instituto Ethos, em colaboração com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e outras instituições, lança luz sobre o perfil social, racial e de gênero das 500 maiores empresas do país, revelando um cenário complexo e desafiador. Este boletim informativo tem como objetivo apresentar os principais resultados dessa pesquisa, com um foco especial na inclusão de pessoas com deficiência.
Principais Tópicos Abordados na Pesquisa
A pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas” aborda os seguintes tópicos:
- Perfil Demográfico: Análise da composição dos quadros das empresas em relação a sexo, cor ou raça, faixa etária, escolaridade e presença de pessoas com deficiência.
- Ações Afirmativas: Mapeamento e avaliação das políticas e ações afirmativas adotadas pelas empresas para promover a inclusão de grupos minoritários.
- Percepção dos Gestores: Investigação da percepção dos gestores sobre a participação de diferentes grupos na estrutura das empresas.
- Desigualdades Estruturais: Identificação das desigualdades sociais que se refletem no mundo do trabalho, como a sub-representação de mulheres e negros em níveis hierárquicos mais elevados.
- Legislação e Normas: Discussão da legislação relacionada à inclusão de pessoas com deficiência, como a Lei nº 8.213/1991 e a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência.
Desigualdades de Gênero e Raça
A pesquisa revela que as mulheres estão sub-representadas em vários níveis hierárquicos nas empresas. Apesar de um aumento na participação feminina em níveis gerenciais, a progressão para o quadro executivo permanece limitada.
Os negros também enfrentam desigualdade, com uma participação que diminui drasticamente na gerência e no quadro executivo, apesar de serem maioria entre trainees e aprendizes.
Inclusão de Pessoas com Deficiência: Um Desafio Urgente
A presença de pessoas com deficiência nas empresas analisadas é de apenas 2%. A pesquisa destaca os seguintes pontos:
- Baixa Representação: A presença de pessoas com deficiência nas empresas analisadas é de apenas 2%.
- Afunilamento Hierárquico: Mulheres com deficiência enfrentam uma dupla discriminação, de gênero e por sua condição, o que agrava sua exclusão em níveis hierárquicos mais elevados.
- Ações de Incentivo: A maioria das empresas declara não possuir medidas de incentivo à presença de pessoas com deficiência nos postos de comando.
- Percepção dos Gestores: Muitos gestores reconhecem que a presença de pessoas com deficiência está “abaixo do que deveria” na supervisão, gerência e quadro executivo.
- Barreiras à Inclusão: A falta de qualificação profissional é apontada como uma das principais razões para a baixa representação de pessoas com deficiência, embora a discriminação histórica também seja um fator relevante.
Ações Afirmativas: O Caminho para a Equidade
Para promover a equidade de gênero, racial e a inclusão de pessoas com deficiência, o Brasil precisa avançar em várias áreas:
- Implementar políticas e ações afirmativas mais eficazes e dinâmicas, com metas e ações planejadas para incentivar a presença de mulheres, negros e pessoas com deficiência em todos os níveis hierárquicos.
- Promover a igualdade de oportunidades entre homens e mulheres, negros e brancos, através de políticas específicas.
- Adotar medidas de conciliação entre trabalho, família e vida pessoal, reconhecendo o desequilíbrio enfrentado especialmente pelas mulheres.
- Criar canais de comunicação para receber e solucionar queixas relacionadas a assédio moral e preconceitos.
- Realizar censos internos para levantar dados sobre a diversidade nas empresas, possibilitando análises e propostas para promover a equidade.
- Capacitar gestores e equipes nos temas da diversidade e igualdade de oportunidades.
- Garantir que a comunicação e o marketing das empresas não utilizem conteúdo discriminatório.
A Visão dos Gestores
A pesquisa revela que muitos gestores percebem a participação de mulheres e negros como adequada, o que pode indicar uma falta de consciência sobre a necessidade de promover a diversidade. É fundamental que os gestores reconheçam as desigualdades históricas e adotem uma perspectiva que priorize a superação dessas desigualdades.
Os dados da pesquisa “Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas” revelam que, apesar de alguns avanços, o Brasil ainda precisa avançar significativamente na promoção da equidade de gênero, racial e na inclusão de pessoas com deficiência. A implementação de políticas e ações afirmativas mais eficazes, a promoção da igualdade de oportunidades e o combate à discriminação são passos essenciais para construir um mercado de trabalho mais justo e inclusivo.
Este boletim informativo serve como um chamado para que as empresas brasileiras se comprometam com a promoção da diversidade e da inclusão em seus quadros. Ao adotar práticas mais inclusivas, as empresas não apenas cumprem seu papel social, mas também se tornam mais competitivas e inovadoras.
Fontes:
- Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, Instituto Ethos, 2016.